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                        MOSTRA, UMA EXPOSIÇÃO? UM DISCURSO…  
                          Uma exposição pretende, antes de mais, apresentar 
                        um discurso. Se atendermos na definição de uma peça oratória 
                        destinada a persuadir; exposição metódica sobre certo 
                        assunto, apercebemo-nos do quanto uma exposição manipula 
                        e orienta o nosso olhar. De certo modo, condiciona, apesar 
                        do espectador se sentir livre no seu percurso, o que é 
                        certo é que por vezes sente-se à deriva, quanto mais não 
                        seja numa mostra que se assume como "Colectiva".    Nove 
                        artistas, que apenas têm em comum fazerem parte de um 
                        grupo, enquanto artistas representados de uma galeria, 
                        não tendo conhecimento das propostas artísticas dos seus 
                        pares. Para além disso não foi sugerida nenhuma temática 
                        nem nenhuma plasticidade: escultura, pintura, design, 
                        cerâmica, fotografia, etc. têm apenas como ponto de partida 
                        a heterogeneidade dos artistas e dos seus materiais e 
                        técnicas. Então onde é que podemos encontrar o fio condutor 
                        para chamarmos esta mostra de exposição e, sobretudo, 
                        de discurso? Julgo que a resposta parece residir na qualidade 
                        dos autores aqui representados:    Cecília 
                        Ribeiro, cuja cerâmica de cunho vincadamente artístico, 
                        dá o salto do cenário artesanal para algo de maior profundidade 
                        estética. As inspirações nipónicas, que tanto admira, 
                        conferem às peças um vigor clean remetendo-nos para uma 
                        mundividência quase zen.   Dimas 
                        Simas Lopes, recorrendo aos signos, simbolismos autóctones 
                        e universais, parece remeter-nos para um universo do fantástico 
                        e do sonho. Estas obras aparecem-nos como que isoladas 
                        em casulos, longe da realidade, abrindo-se ao imaginário 
                        do espectador.   Francisco 
                        Cunha, o arquitecto com provas dadas na área do design, 
                        neste caso do mobiliário. Serve-se do álibi da utilidade 
                        e da forma ligada à função. Não deixa de nos surpreender 
                        pela elegância, simplicidade e, sobretudo pela versatilidade 
                        dos seus objectos.   José 
                        Espadinha, uma proposta eclética no misto da escultura, 
                        pintura e gravura. Artista metódico, altamente disciplinado, 
                        cujo carácter se reflecte na austeridade dos seus objectos 
                        conceptuais, que nos reportam para um mundo da contemporaneidade. 
                        Os títulos não são mais do que meras propostas.   José 
                        Guedes da Silva, o fotógrafo experiente, aposta num políptico 
                        que se transforma em narrativa histórica: este friso lembra, 
                        mais do que a BD, um tipo de código a descodificar, um 
                        imperativo que nos prende a ver o fim da história, uma 
                        montagem lúdica feita dos objectos do real.   José 
                        Nuno da Câmara Pereira, o consagrado pelos inúmeros prémios, 
                        fruto de um trabalho corporal, que lhe imprime uma caligrafia 
                        inconfundível. Porém não se esqueceu dos grandes mestres, 
                        presta-lhe tributo, a um Braque ou El Lissintsky, parecendo 
                        remontar aos tempos do estruturalismo ou suprematismo 
                        russo.   Pedro 
                        Fortuna propõe-nos óleo sobre tela, a matéria intemporal 
                        da pintura, num compromisso temporal do nosso tempo. Uma 
                        espécie de expressionismo abstracto, uma luta entre o 
                        gesto, a acção, o tempo e o espaço. As cores contrastantes 
                        parecem querer afrontar uma visão idílica do mundo. No 
                        fundo retratam uma realidade bem presente, mais do que 
                        uma abstracção.   Renato 
                        Costa e Silva, apresenta-nos objectos que assumem um compromisso 
                        com as artes decorativas: corpos imbuídos de uma plasticidade 
                        imensa, as formas ondulantes e retorcidas plenas de erotismo. 
                        Os seus matizes orgânicos assumem o compromisso entre 
                        o poder viril do fogo e a receptividade do ventre da terra.   Rui 
                        Melo fala-nos da problemática da civilização versus natureza. 
                        O subsolo assume-se como base de uma estrutura maior, 
                        de superfícies intencionalmente austeras e agressivas. 
                        Esta dualidade parece já ter entrado no léxico comum da 
                        humanidade, acabando, naturalmente, por se confundir com 
                        as estruturas do Universo.   E… 
                        no fim, o que nos resta, não são mais do que meras visões 
                        de artistas preocupados com uma estética contemporânea, 
                        na busca incessante de um olhar, que pouse, sem pressas, 
                        nas suas obras receosas de um modo de vida alienado e, 
                        por consequente, tão nosso contemporâneo  |