Exposições
Julgo
que o amor à arte pode, de facto, levar a um
estado de “quase êxtase contemplativo”.
Até aqui nada de novo, isto se nos detivermos
no deleite estético, ou não, que a contemporaneidade
nos oferece.
O caso fica mais sério quando a arte nos remete
para um estado de pura obsessão. Obsessão
esta que se traduz na busca incessante do objecto
enquanto forma matérica e da composição,
enquanto forma do espírito.
É nesta tentativa de dar alguma ordem ao caos
dos objectos que nos rodeiam, que, Dimas Simas Lopes
se coloca. Quase sou capaz de o visualizar –
ele, o artista – tal qual “deus artifex”
no centro, rodeado gravitacionalmente, de objectos,
materiais e técnicas na busca incessante da
ordenação possível.
Pintura e escultura parecem unir-se. Não sabemos
os seus limites, nem nos interessa sabê-los.
O espaço que tudo ordena nos há-de ajudar
nesta messiânica tarefa de podermos olhar –
olhar com ou sem olhos de ver e, por minutos desfrutar
das reacções e das interacções
que num universo semiótico hão-de acontecer
perante os nossos sentidos.
Este discurso pode induzir a uma visão romântica
do ponto de vista da criação, mas não!
Dimas Simas Lopes é um contemporâneo
e tem intenção artística da contemporaneidade
– Kunstwollen – e isso faz toda a diferença:
o ferro, a esferovite, o acrílico, a cortiça,
a madeira, a espuma de poliortano, o ouro, o aço,
parecem vir de um mesmo fundo orgânico, submersível
ou subterrâneo tal qual a ilha que nos habita.
O objecto resgatado do mero acaso, ou até mesmo
readymade, faz as delícias do seu “descobridor”
– dotá-lo de sentido através da
composição resulta num casamento perfeito.
A harmonia entre o choque e o deleite parecem ter
sido sempre tão óbvias nas nossas vidas…
Semelhante a uma composição musical,
cujo trecho se repete nas suas variantes, Dimas Simas
Lopes nos coloca perante um jogo de hipóteses
possíveis e infinitas. A instalação
das peças em exposição formam
um discurso objectivo, intencional e parcial. Devem
ser vistas no seu todo como um macro, de micro matérias.
Julgo ser este o sentido verdadeiro desta mostra,
é este o sentido da vida que Dimas Simas Lopes
imprime aos seus objectos, transformados, por conseguinte,
em objectos artísticos cuja intencionalidade
de os dotar de vida é o grito de ordem. E só
porque existem olhos para ver - os olhos de você
enquanto espectador - é que a Obra se transforma
numa espécie de sinédoque do Mundo.
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